Na crise, Brasil ganhou 1,4 milhão de CNPJs em seis meses de 2020

24/08/2020 • Políticas Públicas

Do total, 87% são microempreendedores, diz pesquisa da empresa de crédito proScore. O auxílio emergencial e o avanço dos PJs explicam o resultado

Por Leo Branco

Pessoas em tradicional rua de comércio popular no centro do Rio de Janeiro
Comércio de rua no Rio de Janeiro em tempos de pandemia: o estudo revela uma redução de 16% no fechamento de empresas no País nos seis primeiros meses em 2020 em relação ao mesmo período do ano passado (Lucas Landau/Reuters)

Em plena crise econômica, o Brasil abriu 1,4 milhão de empresas nos seis primeiros meses de 2020, 9% acima do mesmo período do ano passado. Os dados são de uma pesquisa inédita da proScore, uma agência de classificação de crédito a pessoas físicas e jurídicas.

Entre os motivos para o resultado positivo, segundo os autores da pesquisa, está a transferência de mais de 200 bilhões de reais do auxílio emergencial do governo federal a autônomos sem renda durante a quarentena. A política pública teria, então, dado espaço para uma guinada no consumo e, na ponta, alavancado a abertura de negócios.

Na lista de razões pode estar, também, a expansão dos trabalhadores sob regime de pessoa jurídica (PJ), a chamada “pejotização”, um indício do abandono crescente das relações formais de trabalho previstos pela legislação trabalhista.

Para chegar ao resultado, os técnicos da proScore cruzaram bases de dados dos registros de pessoas jurídicas na Receita Federal, o Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ), com o de beneficiários do auxílio emergencial disponíveis no Portal da Transparência.

O exercício tentou entender até que medida o ecossistema de microempreendedores saiu ganhando com o auxílio emergencial do governo. Segundo a pesquisa, oito em dez negócios abertos neste ano são de microempreendedores individuais, os MEIs, com faturamento mensal de até 5 mil reais.

As atividades com mais negócios abertos até agora em 2020 são lojas de vestuário (9%), salões de beleza (8%), promotores de vendas (8%), vendedores de marmita (6%), serviços de construção civil (6%), lanchonetes (5%) e motoristas de aplicativo (4%).

Alguns dados chamaram a atenção dos pesquisadores. Nos primeiros seis meses de 2020, houve um aumento de 33% na procura por conexões a provedores de internet e telefonia, insumos fundamentais para empreendedores venderem produtos ou serviços na internet em marketplaces ou em canais próprios de venda. Os autores da pesquisa também observaram uma alta de 45% na venda de motos e bicicletas elétricas, um reflexo do aumento de profissionais de entrega no país.

Para os técnicos da proScore, apesar do impacto da quarentena sobre negócios com venda direta de produtos ao consumidor, como restaurantes, bares, lojas, estabelecimentos de shoppings, parte desse público readequou as atividades, buscando novos meios de venda, como marketplaces e venda direta pela internet.

O estudo revela ainda uma redução de 16% no fechamento de empresas no País nos seis primeiros meses em 2020 em relação ao mesmo período do ano passado. Até junho, 489.000 negócios deram baixa nos registros da Receita Federal. No mesmo período do ano passado, 584.000 haviam tomado essa decisão.

“É possível que as pessoas tenham postergado a formalização de fechamento das atividades por conta da pandemia e falta de acesso a atendimento presencial, mas fato é que os serviços para esses préstimos também poderiam ser operacionalizados de forma online”, explica Mellissa Penteado, presidente da proScore. “Isso nos leva a crer que o auxílio emergencial assistiu essas pessoas e contribuiu com a preservação de PIB potencial.”